Não houve excessos?! “Mesmo assim, a UEM
está instaurando uma sindicância para apurar os acontecimentos, reunindo todo o
material necessário à análise dos fatos, como vídeos e fotos, visto que a
Administração Central, repudia, veementemente, qualquer ato de violência”,
afirma a Nota da UEM.Se afirma-se tão categoricamente que “em nenhum momento a
vigilância cometeu excessos” por que a necessidade de instaurar sindicância? Se
a Administração Central “repudia, veementemente, qualquer ato de violência”,
porque, diante das imagens e dos fatos, insiste que não houve “excesso”?
Devemos aceitar a violência no campus como normal? O que é
considerado “excessos”?!
Qual é o grau de violência excessiva?
Terá que ocorrer algum ferimento mais grave – nem ouso pensar em ferimento
fatal – e mais feridos gravemente para ser classificado como “excessos”? Ainda
que chegássemos a esta infeliz situação, há uma questão precedente: numa
instituição educacional é admissível o uso da violência contra os estudantes? É
esta a função da vigilância patrimonial?
As imagens mostram um grupo em confronto
violento com os jovens. Não os reconheço. Quais as razões para agirem assim?
Quem atirou a pedra na jovem? Por que espancaram o estudante e a moça que o
defendeu? Há rixas pessoais? Terá sido uma “crônica anunciada”? Quem ordenou?
Por que, enfim, tanta violência em vez do diálogo e a busca de meios pacíficos
para enfrentar o problema? Por que deixamos que chegasse a este ponto? O que é
preciso fazer para evitarmos que fatos como estes se repitam?
O que é mais preocupante, a violência ou
as tentativas de justificativa desta? O discurso legalista legitima atitudes
violentas com o argumento da defesa da ordem e faz eco aos preconceitos e
estigmas lançados contra os estudantes. Se aceitarmos o veredito dos que
justificam a violência, os estudantes são um bando de desordeiros e viciados.
Parece que basta ser aluno de Ciências Sociais, Filosofia e outros cursos
estigmatizados, para ser desqualificado. Sim, há o problema das drogas, na UEM
e fora dela. Mas, por que generalizar?
Muitos preferem o estereótipo e a
acusação aos agredidos. “Por que estavam ali naquele horário?” A resposta
legitima a violência. Não tenta-se compreender as motivações dos estudantes,
mas parte-se do pressuposto de que reuniam-se para drogarem-se e consumirem
álcool – o que é negado por eles e elas – e termina-se por concordar com a
violência e até mesmo a estimulá-la. Justifica-se o injustificável!
Fico a pensar: “E se fosse a minha
filha?” Não faltaria o dedo acusador a apontar-me a “culpa”. Não é suficiente
aos pais o sofrimento de ver a filha ferida, é preciso que responda ao
julgamento moral. Tento entender a atitude de quem espanca e fico a
perguntar-me: “E se fosse a tua filha, o teu filho?!”
Por ironia, naquela quinta-feira o tema
da aula foi o pensamento de um filósofo que acreditava na razão e na persuasão
racional contra a força e a violência. Seu nome, William Godwin. Se estivesse
vivo, estaria em choque e precisaria rever suas ideais!
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