A
gestão de Beto Richa (PSDB) elevou o gasto com funcionalismo público no Paraná
aos maiores níveis dos últimos dez anos. Levantamento feito pela reportagem da
Gazeta do Povo mostra que em 2012 a folha de pessoal chegou a 3,96% do Produto
Interno Bruto (PIB) paranaense, proporção que jamais havia sido atingida na
última década. O gasto também equivale a 46,7% do orçamento do estado – índice
igual ao pior resultado do governo de Roberto Requião (PMDB), em 2004.
Os
dados mostram que entre 2003 e 2012 o governo paranense gastou pouco mais de R$
63 bilhões com o funcionalismo. Só no ano passado foram R$ 10,2 bilhões. O
levantamento abrange duas gestões de Roberto Requião (PMDB), nove meses de
gestão de Orlando Pessuti (PMDB) e os dois primeiros anos da administração
tucana (veja infográfico). O cenário é preocupante.
Desde
2003, a única vez antes do governo Richa em que o Paraná havia ultrapassado o
limite prudencial estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal aconteceu em
2004, no governo Requião. Depois disso, houve uma queda acentuada até 2008,
quando a porcentagem foi de 42,27% – única vez nestes últimos 10 anos em que o
Tribunal de Contas do Estado (TC) não precisou enviar um alerta ao governo por
causa do elevado gasto com pessoal.
A
partir de 2008, porém, a curva começou a subir e a incomodar o Executivo
novamente. No primeiro ano de Richa, os gastos do governo com pessoal chegaram
a 46,65% e no ano passado se manteve na casa dos 46,67%. Por ter extrapolado o
limite prudencial, o governo ficou temporariamente proibido de criar qualquer despesa
extra no pagamento da folha salarial do funcionalismo – o que inclui desde a
simples contratação de um servidor até a criação de cargos e a concessão de
aumento salarial.
O
secretário de Estado da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, elenca imprevistos que, segundo
ele, contribuíram para o aumento do gasto nos dois primeiros anos do governo
Richa. “Houve uma avalanche enorme de aposentadorias, novas contratações,
aumento do salário de professores e policiais e ainda a implementação da
defensoria pública”, diz.
Hauly
afirma ainda que os estados adotam metodologias diferentes de contabilidade dos
gastos de pessoal – atendendo sempre as normativas dos TCs. “Se fôssemos
adotar, por exemplo, a metodologia usada no Rio Grande do Sul estaríamos com um
porcentual bem menor”, comparou. “Este é o cerne da discussão que tenho com o
Tesouro Nacional”, completou Hauly, citando que o governo do Paraná deduz
pensionistas, o que não acontece no estado gaúcho, por exemplo.
Especialistas dizem que
não é preciso mudar a lei
Especialistas
ouvidos pela Gazeta do Povo apontam saídas para o governo do Paraná se adequar
aos limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) com gasto de
pessoal. Em resumo, não tem muito segredo: o que é preciso fazer é aumentar a
receita e otimizar os serviços e o uso de pessoal.
Professor
de Direito Financeiro da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rodrigo
Kanayama é contra mudanças na legislação – pedido recorrente dos chefes do
Poder Executivo. Para ele, o processo para se adequar à LRF é lento e os
governantes precisam mudar a cultura da gestão pública. “É um processo que tem
que ser resolvido a longo prazo. Não é justo colocar na conta dos servidores. É
preciso mais eficiência no serviço prestado”, diz.
Rodrigo
Pironti, advogado e professor de Direito Administrativo e Constitucional da
Universidade Positivo, também é contra o corte de pessoal com a justificativa
de tentar conter os gastos públicos. Ele acredita na conjugação do planejamento
tributário, para maximizar a atração de receitas, e estratégico para
identificar o gargalo de gastos da administração pública. “É preciso analisar
todas as secretarias e ver se é possível cortar gastos ou remanejá-los. Fala-se
muito em corte de cargos comissionados. Não é preciso cortar, mas sim remanejar,
realocando competências e funções estratégicas para estes cargos”, diz, citando
que hoje eles são usados para atender interesses políticos.
O
secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, informou que o comitê de gestão do
governo será reativado e vai acompanhar os gastos do governo informando ao
governador Beto Richa (PSDB) da situação financeira do estado.
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