domingo, 25 de agosto de 2013

Autonomia universitária em xeque





Tema, é alvo de Debate na XXVIII Semana do Economista da UEM, nesta segunda-feira, 18h

Embora sejam vinculadas à estrutura do governo, é garantido por lei às universidades a necessária autonomia para atingir a excelência nos três pilares que regem seu funcionamento – ensino, pesquisa e extensão. Sem a devida independência, as instituições de ensino superior ficariam reféns das mudanças políticas trazidas pelas eleições a cada quatro anos. Casos recentes, no entanto, vêm levantando questionamentos sobre o respeito a esse princípio no país.

Desde que o governo federal, em julho, deu sinais de que pretendia mudar o currículo de Medicina, estudantes e entidades profissionais têm ido às ruas denunciar o que consideram uma imposição. O acréscimo de dois anos na formação acadêmica e a obrigatoriedade dos recém-formados de trabalharem no Sistema Único de Saúde (SUS) foram rechaçados por representantes da categoria e passou-se a exigir do governo mais diálogo com a comunidade acadêmica antes de qualquer mudança.

Outra situação de interferência externa na grade curricular ocorreu na área do Direito. No fim do mês passado, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) propôs ao Ministério da Educação a inclusão do estágio de seis meses em comunidades carentes, como favelas, dentro da grade do curso. Em participações pelo site do Vida na Universidade, alunos chamaram a proposta de “modismo” e reclamaram do que consideram uma intromissão da OAB.

Para a diretora do Setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Claudete Reggiani, as recentes proposta do governo para os cursos de Medicina são até interessantes, mas foram muito mal apresentadas. “Eles poderiam ter perguntado se vale a pena aumentar para oito anos a formação. Não o fizeram e agora todos dizem que não vale.” Ela acrescenta ainda que o modo como a proposta chegou ao conhecimento da categoria gerou muita informação equivocada.

Já o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), professor Waldemiro Gremski, afirma que os exemplos ilustram a distância entre o conceito de autonomia expressa pela Constituição e a realidade. Ele classifica o caso da interferência nos cursos de Medicina como uma agressão. “Todas essas mudanças que querem aprovar deviam ser previamente discutidas com as universidades e passado por conselhos”, diz.

Numa comparação com o que ocorre no exterior, Gremski lamenta que o Brasil esteja tão distante do que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos. “Eles têm o melhor sistema universitário do mundo e o controle do Estado sobre as universidades é mínimo. As instituições têm muito mais liberdade para criar”, diz.

No PR, caso Unespar gerou discórdia entre universidades e governo,
Em maio, a escolha do governo por Paranavaí, no Noroeste do estado, para receber a sede da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) deu início a uma série de manifestações por parte de professores, alunos e funcionários da instituição. Eles alegam que o governo feriu o princípio da autonomia ao ignorar a decisão do Conselho Universitário, tomada em 2011, de estabelecer a sede em Curitiba.

Apesar das passeatas no centro da capital e dos protestos diante da Assembleia Legislativa, os deputados estaduais aprovaram em 4 de junho a instalação da Reitoria em Paranavaí. Na ocasião das passeatas, críticos à decisão alegaram tratar-se de uma escolha meramente política, que não levou em conta argumentos de ordem prática, como a facilidade de acesso e a localização geográfica das oito faculdades que compõem a Unespar.

Contudo, entre os argumentos do governo para justificar a decisão, foi citada a oportunidade de desenvolver a região Noroeste do estado, além das vantagens oferecidas pela prefeitura de Paranavaí, que ofereceu infraestrutura e manutenção para que a sede fosse estabelecida lá. (JDL).

Gazeta do Povo


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