Muitas são as críticas aos atuais instrumentos de avaliação aplicados na universidade.
No geral, o método adotado é o chamado de "decoreba", que nada estimula o despertar crítico do aluno.
.Como avaliar quantitativamente de maneira qualitativa?
.Existe um modelo ideal?
.O aplicado hoje é de fato ultrapassado?
Convidamos VOCÊ para este Debate:
A (IN)EFICIÊNCIA DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO NAS UNIVERSIDADES
“Uma crítica aos tradicionais métodos vigentes”
Palestrante:
PROFESSOR ANTONIO OZAÍ DA SILVA
Professor do Departamento de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Maringá (DCS/UEM), editor da Revista Espaço Acadêmico, Revista Urutágua e Acta Scientiarum. Human and Social Sciences e autor de Maurício Tragtenberg: Militância e Pedagogia Libertária (Ijuí: Editora Unijuí, 2008).
DIA: 4 de junho
LOCAL: Bloco C-34 / Auditório 13
HORÁRIO: 18h20 às 19h30
Segue dois textos do Professor Ozaí para reflexão:
EDUCAÇÃO: REPETÊNCIA E APROVAÇÃO
A repetência nem sempre se explica pelo fato do aluno ser relapso. Ela também ocorre por fatores que não dizem respeito apenas aos estudantes (problemas estruturais internos e externos à universidade, questões concernentes à docência, etc.). Na verdade, o sistema de avaliação não é tão exigente como parece. A rigor, a nota mínima exigida é baixa e se o aluno não consegui-la tem a chance do exame final. O estudante que saiba minimamente “empurrar com a barriga” não reprova. Qual a diferença entre um aluno aprovado nestas circunstâncias e o que foi reprovado?
Eis a questão central: a prova não prova nada. E por que não? Porque o que predomina é o ensino decoreba. Desde a mais tenra idade o aluno é estimulado a memorizar conteúdos que servem unicamente para tirar nota e passar de ano. Ele não aprende, memoriza. Sua motivação restringe-se à necessidade de ir bem na prova. Ele é treinado para passar no vestibular e chega à universidade, quando consegue, com graves deficiências em sua formação.
O sistema escolar não pressupõe a reflexão crítica sobre os conteúdos, as didáticas, a autoridade professoral e, menos ainda, o amor ao saber. O aluno chega à universidade com o pensamento fixo na nota e perde a curiosidade pelo saber; preocupa-se apenas em passar de ano e, para isto, valem todos os artifícios.
O professor também trabalha com este paradigma. Em geral, sua atitude docente restringe-se a passar o conteúdo e cobrá-lo num determinado dia. Então, o aluno deve provar que aprendeu, ou melhor, que memorizou. É justo avaliar o aluno por um momento da sua vida acadêmica? E se naquele fatídico dia, o aluno esforçado, estudioso, teve um problema pessoal que o desestabilizou emocionalmente e comprometeu o seu desempenho? E se simplesmente deu um branco?
O aluno chega à universidade e se depara com um sistema que prioriza a nota e não o aprendizado. Há uma overdose de disciplinas e conteúdos. Ele fica perdido em meio a tantas exigências, textos, livros para ler, etc. Ele descobre estratégias de sobrevivência, que pressupõe até mesmo a cola, os trabalhos encomendados, a reprodução de conteúdos, etc. O que importa é o canudo.
Ninguém pergunta se tal ou qual disciplina lhe interessa, o que é mais importante para a sua formação, etc. Tudo lhe é imposto: disciplinas, conteúdos, formas de avaliação. Não seria melhor acreditar na sua capacidade de discernir, valorizá-lo como agente do aprendizado – e não restringi-lo a objeto cuja função é reproduzir o saber do professor – e motivá-lo a aprender a ser livre e responsável?
O sistema de ensino fortalece o poder do professor. Este, ao confundir autoridade com autoritarismo, desempenha o papel de um pequeno déspota em sala de aula. O aluno estuda pela nota e o professor força-o a tal para impor-se, imaginando discipliná-lo. Há até os que se vangloriam por reprovarem a maioria.
Os alunos, por seu turno, tendem a não levar a sério o professor que não adota tais procedimentos. Esse é baba, imaginam! Eles até gostam do professor, mas como o estudo se restringe a tirar a nota, e se é fácil consegui-la, por que se preocupar com o aprender? É claro que, tanto em relação aos docentes quanto aos discentes, há as exceções. Mas, como se diz, a exceção confirma a regra.
Neste sistema, o prêmio da nota é uma ilusão. Ele pode ter estudado apenas para a prova. E daí? Isto significa que aprendeu? Que influencia terá isto na sua vida ulterior? O aprender exige esforço, dedicação e, sobretudo, interesse. Nenhum professor, por melhor que seja, poderá ensinar se o aluno não desejar aprender. Aliás, para isso é preciso que o ele se despoje do poder de vigiar e punir e adote a atitude do educador que se educa ao educar.
A DIMENSÃO AVALIATIVA DA PRÁXIS DOCENTE
Numa época em que tudo está sujeito a processos avaliativos, discutir as dimensões da avaliação na educação pode parecer modismo. Afinal, a literatura especializada debate insistentemente quais os melhores métodos de avaliação da aprendizagem. Discutem-se os méritos e deméritos da avaliação contínua, dos diversos mecanismos de avaliar (dissertação, prova objetiva, seminários, etc.), do vestibular, ENEM, etc. Os profissionais da educação são submetidos a avaliações internas e externas e o desempenho passa a ser matematicamente pontuado. Busca-se, numa filosofia economicista, verificar se a relação custo-benefício se sustenta. A educação termina por se constituir em coisa mensurável e sujeita aos humores das autoridades.
Nesse emaranhado de múltiplas avaliações que parecem autojustificadas, como fica a situação do aluno? Qual a sua opinião sobre os seus avaliadores e processos avaliativos? Quem ouvirá os seus reclamos? Quem avalia o avaliador?
Ao contrário do que imaginam certos doutos educadores, muitos alunos não vêem com bons olhos as avaliações fundadas na memorização. Eles percebem que o método decoreba prepara-os apenas para a prova e que, depois, esquecem o conteúdo. Vêem claramente que isto não os prepara para a vida profissional, nem lhes proporcionam uma formação crítica. Esta prática pedagógica estimula e reforça comportamentos e posturas inadequadas: a cola, o plágio, a fraude escolar (compra de trabalho), a valorização da nota em lugar do processo de aprendizagem.
Os instrumentos avaliativos são inúmeros. É surpreendente que muitos professores ainda se restrinjam à avaliação estilo decoreba. Por outro lado, observe-se que, independentemente dos tipos de instrumentos avaliativos utilizados, todos são meios e não fim. O problema maior é quando a avaliação se transforma num fim em si, operando-se uma inversão de valores. Os meios utilizados têm aspectos negativos e positivos e podem ser potencializados ou não, a depender das circunstâncias e da capacidade profissional.
Propaga-se a necessidade de tudo mensurar e a certeza de que é possível fazê-lo. Pensar em termos de quantificação do saber parece até mesmo um fator intrínseco à natureza pedagógica. Proponha a extinção de qualquer mecanismo de definição de notas – pois todos os instrumentos visam quantificar resultados – e todos considerarão absurdo.
Os alunos podem questionar o mau uso dos instrumentos de avaliação, podem até mesmo preferir uns a outros e são capazes de elogiar os professores que utilizam eficazmente este ou aquele meio avaliativo. Mas, em geral, concebem a avaliação como um fato em si, naturalizando-a e não questionam os pressupostos. Aliás, não só os alunos, seus professores também! A favor de uns e outros, deve-se observar que estão submetidos a todas as exigências burocráticas do sistema de ensino.
A dimensão pedagógica da avaliação está entrelaçada com a dimensão emocional. Uma prática pedagógica ineficiente e o uso inadequado de meios avaliativos geram efeitos traumatizantes. Por sua vez, a desconsideração de procedimentos éticos no agir educativo e a desatenção quanto aos aspectos emocionais produzem efeitos negativos que, além de gerar sofrimentos, comprometem a atuação do professor.
É no processo avaliativo que o poder professoral (de definir a nota, aprovar ou reprovar) mais se faz sentir. A atitude do professor é o fator de maior influência emocional. O abuso de autoridade e a desconsideração à dimensão emocional tendem a deixar marcas indeléveis por toda a vida. É preciso respeitar a pessoa do aluno, tratá-lo como ser humano. Isto deveria ser uma obviedade!
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